Conto de Natal - Livro Digital

Texto Criativo

O texto que se apresenta nasceu da veia criativa da aluna Catarina Almeida, depois de ter assistido a uma curta representação teatral do Teatro mais Pequeno do Mundo:


«Penélope: viagem ao centro do teatro minimalista»


Quarta-feira. Chuvosa, triste, mal-encarada, com o sol a rasgar a meio as nuvens de Dezembro. No meio do betão, Penélope erguia-se, majestosa, qual divindade grega no alto do Olimpo. Engane-se quem julga que descrevo um quadro de Miguel Ângelo adaptado à sociedade moderna em que vivemos. Refiro-me a Penélope, uma caravana (minimalista, diga-se de passagem) onde o teatro se ergue pela mão de um ou dois actores, em sessões de 5 a 10 minutos.
Entrámos um a um. Devagar, não fosse a pequena ceder ao peso dos visitantes, acomodámo-nos: a plateia e as bancadas apinharam-se. A porta não fechava. Moldaram-se os corpos, cruzaram-se as pernas e respirou-se fundo para que todos coubessem. A porta fechou. E eis que, no palco, surgem a medo, as primeiras personagens do espectáculo. Um jogo de sombras, fazendo lembrar o teatro chinês e japonês, ganhava forma pelas mãos do actor presente. Sentado no chão, insuflava vida a folhas, penas, pedaços de cartão e plásticos, e no lençol, perdão, na tela suspensa no palco, a história ganhava vida. Penélope respirava e transpirava força ao ritmo do xilofone habilmente tocado, e as tais penas, folhas e cartões, por falta de espaço, roçavam-me as pernas constantemente. Rouxinóis, árvores com ramos de penas, óvnis de cartão preto povoavam a tela já gasta do auditório. Na mesma, os olhos cravavam-se sedentos e a respiração era quase inaudível.
Chegou depois o corvo. A narrativa de um homem afligido por uma ave da qual não se conseguia ver livre. A história, deliciosa, extraordinariamente bem representada apenas por uma actriz, auxiliada apenas por um pequeno led, foi, a meu ver, o ponto alto do pequeno grande espectáculo. Sofremos, amámos, chorámos e odiámos aquele pássaro tanto ou mais que a actriz.
Saímos. Contrafeitos. Chocaram-me a luz do exterior e a realidade, algo normal para quem acabara de sair de outra dimensão.
Simples. Deslumbrante. Cativante. Eis os três adjectivos que melhor caracterizam o espectáculo que presenciámos. Sem a sumptuosidade de La Féria, as árias de Mozart ou os textos de Shakespeare, esta versão do teatro puro e duro, minimalista e maravilhosamente bem construído, soube-nos a pouco. Terrivelmente pouco.
( Catarina Almeida, 11º A)




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