Conto de Natal - Livro Digital

No âmbito da Oficina de Escrita, realizada semanalmente na aula de Português, 10º ano,  e na sequência do estudo dos textos autobiográficos e memorialísticos, os alunos foram convidados a escrever, também eles, uma carta. Eis alguns exemplos:

 
 
Carta a um Antepassado

 
                                                             Sala 11 da Escola Secundária de Nelas, 10 de outubro de 2013


Meu amigo Ulisses,

            Escrevo-te esta carta com o objetivo de te avisar do horror que a Humanidade está a passar. Aí, na tua época, já deves começar a sentir algumas mudanças: maior necessidade de armas, maior procura de poder, etc. Aqui, em 2013, 70 anos pós o culminar de duas gigantescas e horrendas guerras, guerras essas que dizimaram milhões de pessoas, sentimos raiva pela pressão,  pelo controlo, pelo poder que uns países exercem sobre os outros, os mais fracos, claro. Guerras, guerrilhas, lutas, crises, massacres, agiotagem, tráfico de influências, tudo isto pode resumir os nossos acontecimentos recentes.

         A Humanidade, a maior criação dos deuses (não apenas dos deuses, mas como a tua realidade se centra nos deuses, não te irei explicar isto, por agora) estragou-se, está como o céu estaria sem estrelas. Perdeu todas as suas maiores qualidades.
             Apesar de tudo isto, a Humanidade alcançou enormes feitos. Sem dúvida .Grandes cientistas gregos, romanos e árabes irão, daí a algum tempo, inovar o cálculo, a medicina, a literatura, entre muitas outras áreas do saber; o Homem inventou formas de prolongar a vida, melhorando, tanto a qualidade como a esperança média de vida, que agora é de cerca de 78 anos para os homens e de 80 anos para as mulheres. Apesar disto, as fórmulas que o Homem tem para tirar uma vida também aumentaram, o que não é nada bom. Assim, inventámos novas formas de andar pelos céus – os aviões – e de andar por terra – o carro; podemos falar com pessoas muito afastadas de nós, e até vê-las; e,  imagina ,o Homem até conseguiu sair da Terra, o seu maior feito!
           Os teus feitos ainda no nosso tempo são reconhecidos, tendo-se mantido a tua viagem lendária, tal como o será quando a realizares. És reconhecido como o Homem mais famoso da Grécia Antiga. Já agora, revelo-te  o segredo para derrotares a Hidra : é fazeres com que ela olhe nos olhos da Medusa. Agradeces-me depois ;)
       Já agora, como te corre a vida? Já encontraste a Penélope? Vocês fazem um casal extraordinário!
                       Um abraço!
                                      Do teu tetra(x 20)-neto!

                                                       Gervásio Ulisses da Silva

P.S.: Não brinques nem  irrites os deuses. A sério, não ! Limita-te à tua insignificância de Ser Humano.
P.S.S.: Tenta encontrar a fórmula da cerveja, é mesmo boa, vais ver. Leva cevada e tem de fermentar, e mais não digo.


 
Carta aos meus Antepassados

Nelas, 10 de Outubro de 2013

 
           Meus desconhecidos antepassados do neogénico,

Espero que tudo vos corra bem.Escrevo-vos através deste instrumento mais associado ao vosso tempo do que ao meu, “a carta”, que está escrita “na folha”.Escrevo-vos para vos informar acerca das novidades dos meus tempos no qual vocês não passam de um objeto de estudo dos “cientistas”.
Vou começar pelo básico. “A roda”, aparelho que serve de base para o transporte facilitado de tudo, desde objetos a pessoas. Serviu de base para um dos equipamentos mais utilizados na atualidade “o carro”. Estes circulam “nas estradas”, grandes caminhos nos quais andam “os carros”.
Foi também inventado um aparelho que emite uma série de imagens, a televisão, e que é capaz de colocar pessoas sentadas durante longas horas a praticar o “nada” sem ser olhar para ela.
É também bastante utilizado um aparelho que permite a duas pessoas em pontos distantes comunicarem entre si, “o telemóvel”. Afeta principalmente as mulheres, uma vez que, quando o usam, não o largam durante horas.
Aproveito também para falar de locais com uma dimensão enorme nos quais várias pessoas gastam grandes quantidades de “dinheiro[1]” em objetos que, na maior parte das vezes, não servem para nada.Falo-vos também “da política”. Quem se dedica a esta atividade tem por hábito “discutir aos berros uns com os outros” (às vezes, um bocado como vocês) encarando isso como uma profissão.
Poderia falar-vos de muitos outros assuntos da atualidade: o futebol, a crise económica, a corrupção e o Pinto da Costa (que não está de maneira nenhuma relacionada com o anterior), contudo a professora de Português não me deixa escrever mais, portanto vou ter de parar.

Do vosso descendente,

                                       Francisco Marques


P.S- Envio um dicionário para o caso de não perceberem nada (http://www.priberam.pt/DLPO/)



[1] Moeda de metal ou papel que representa um valor fixo que é aceite como forma de pagamento.



 

Atividade Escrita:

Através dos livros e dos filmes, conhecemos personagens que nunca esquecemos e que, frequentemente, passamos a considerar heróis da nossa vida.
Imagina que, num belo dia, encontras uma das tuas personagens preferidas. Escreve um texto narrativo, correto e bem estruturado, em que relates esse encontro invulgar.
 
Encontro com a minha personagem favorita 

Passou já algum tempo desde a minha última “aventura”, se assim se pode chamar, mas, perante os acontecimentos destas últimas semanas, acho que valem a pena e a tinta para as escrever.
Tudo aconteceu numa noite tranquila, em Londres, há duas semanas, enquanto estive de férias.
A cidade estava coberta por um denso nevoeiro ,não podia ver para além de dois metros do nariz. Foi nessa noite que decidi passear pelas ruas sombrias da cidade.
Caminhei rapidamente no passeio de cimento. Subitamente, senti um arrepio pelas costas e a brisa fria na cara. Tive a sensação de que não estava sozinho... que estava a ser perseguido.
Olhei para trás, mas ninguém estava lá.

-Devo estar a sonhar.- disse baixinho a mim próprio.

-Mas não estás, meu amigo.- respondeu-me uma voz forte e rígida.

Admito agora que a minha alma quase saltou do meu corpo ao ouvir isso. Voltei a olhar em frente e encontrei-me cara-a-cara com um homem, bem alto, vestido num fato cinzento e com um chapéu a esconder-lhe a cara.
-Hum...-começou ele, apoiando-se na sua bengala- és um rapaz determinado, mas pouco organizado e misterioso.
-E o que te leva a dizer isso?- perguntei eu , chocado com o homem.
-Como não fugiste quando me viste, és um rapaz teimoso, determinado. Tu levas contigo um bloco de notas que utilizas para anotares o que tens que fazer, ou seja, esqueces facilmente, que é o mesmo que não ser bem organizado. Também te vestes com roupas de cores escuras. Estás sempre a tentar esconder, mas não das outras pessoas. Escondes segredos.
Tentei falar, mas não consegui. Fiquei espantado com as deduções dele. Tive que engolir o meu orgulho e admitir-lhe.
-Uau! Como é que conseguiu fazer isso?
-Elementar, meu caro.- respondeu ele- Isto é o poder de dedução.
-Já que sabe tanto sobre mim,- disse eu – diga-me algo sobre você
-Porque não me dizes tu?- respondeu-me ele, sorrindo.
Para mim, foi um quebra-cabeças .Que fazer? Que dizer? Dizer-lhe algo sobre ele? Ele é que fazia as deduções! Tive que me concentrar. A sua maneira de falar o facto de se apoiar numa bengala, a maneira como vestia...lembravam-me alguém que me era familiar...
-És Inglês.- comecei eu- És certamente de cá, tens por volta de 40 anos e trabalhas para a polícia.
Ele felicitou-me com uma salva de palmas. Estendeu-me a mão e apertei-o com toda a felicidade.
-Parabéns, meu caro.- disse ele- Agora, se me deres licença, tenho assuntos a tratar.
-Mas como se chama?- eu perguntei, curioso.
Olhou para mim, com um sorriso terno, como se eu já soubesse a resposta. E assim, desapareceu no nevoeiro.
E foi primeira e última vez que o vi. Na manhã seguinte segui os mesmos passos. Encontrei-me em Baker Street, a rua dos padeiros,
a frente do apartamento 221B. Foi nesse momento que deduzi quem era ele. E tu, sabes quem é?


Sean Michael S-Johnson, aluno do 9ºC

Reportagem                                  Partida da Armada de Vasco da Gama de Belém

Hoje, dia 8 de Julho de 1497, dia histórico para Portugal, encontro-me, aqui,, no areal  da Praia  de  Belém, para assistir  à largada da armada de Vasco Gama para a Índia.
O ceú está limpo, o sol estende os seus raios   pelas águas da foz do Tejo e pelo areal dourado. Uma brisa suave  faz ondear os estandartes e as bandeiras que, com as suas cores, dão um colorido à paisagem. São três as naus que irão desbravar o mar desconhecido: a nau S. Gabriel, capitaneada por Vasco da Gama; nau  S. Rafael, cujo capitão será  Paulo da Gama e a nau Bérrio, dirigida por Nicolau Coelho. Há ainda uma naveta de mantimentos para três anos: biscoitos, feijão, carnes secas, vinho, farinha, azeite, salmouras e outras coisas de botica.
Há uma grande azáfama nos preparativos, os nossos jovens, matelotes e soldados, embora conscientes dos perigos desta viagem para o desconhecido, estão motivados e prontos para seguir Vasco da Gama para toda a parte. Está cá toda a sociedade representada: desde sua alteza o rei, D. Manuel, o clero, a nobreza até ao povo.  A multidão cobre o areal: crianças, mulheres e velhos. São os que ficam.
Neste preciso momento,  sai uma procissão da ermida de Nª Sra de Belém, que conduz os mareantes até aos botes que os levará às naus engalanadas e ancoradas ao largo da baía do Restelo, com as novíssimas  madeiras envernizadas. Mas, antes,  os marinheiros ouviram missa, comungaram, preparando as suas almas para o que der e vier.
Agora  dirigem-se em procissão para os bateís. Ao meu lado ouço num desabafo «Ai, meu querido filho,  não te vou ver mais... Preciso de ti, quero que me ampares nesta minha velhice»!  O ambiente é pesado, tenso, cheio de sussurros, entrecortados de  lágrimas e choros. Observo uma donzela em cabelo que diz «  Porque te vais e me deixas, mísera e mesquinha, deitando ao vento nosso amor, nosso vão contentamento?»
O capitão-mor Vasco da Gama decide embarcar rapidamente, sem mais demoras, para não tornar mais difícil este momento para todos. Dá ordem  para desfraldar as velas e levantar âncora. « Boa viagem !» gritam os que ficam. Há acenos de despedida  e todos os que ficam  choram copiosamente, encomendando a Deus os seus familiares e amigos e tecendo juízos de valor de acordo o que cada um sente.
Nisto, um velho de aspeito venerando, mas com ar experiente, grita « Ó Glória de mandar, ó vã cobiça/ Desta vaidade a quem chamamos Fama ? Que castigos tamanhos e que justiça / Que mortes, que perigos  que tormentas/ Que crueldades neles experimentas !», mas as pessoas à volta nada respondem. Uns veem  esta expedição com bons olhos: as especiarias, o ouro, pedras preciosas trará  uma vida melhor.
As naus já vão lá longe no horizonte distante. A multidão começa a dispersar.
Alguém questiona, em jeito de dúvida « Valerá a pena ? » Outro responde « Tudo vale a pena se a alma não é  pequena !», mas ainda ouço um pensando alto « Malhas que o Império tece...».
 
                                                                           Texto coletivo. 9º Ano, ano letivo 2012/ 2013

Escrita Criativa « Eu escrevo e tu continuas...»


Véspera de Natal. O frio intenso gelava-nos os ossos, a neve esperava a hora de cair. Baltasar preparava-se para a grande caminhada pelos montes à procura... (Professores Irene Santos e João Rui)
...do Pai Natal. Ele morava no Polo Norte, um sítio distante, por isso tinha de atravessar meio mundo. Lembrou-se então de tirar um pouco de café quente, que tinha guardado para a viagem numa thermus, para se aquecer. Entretanto... (Ana Beatriz, nº1)...,quando ia a meio do caminho, passou por uma menina que estava perdida. Chamava-se Barbie. Era muito pequenina e também andava à procura do Pai Natal, mas perdeu-se. Então Baltasar ajudou-a a levantar-se e deu-lhe um pouco do café que ainda sobrava. Logo de seguida, retomaram a viagem que tanto queriam fazer. A determinada altura depararam-se com ... (Ana Rita, nº2)… o Homer Simpson, que também andava à procura do velhinho das barbas brancas. Estava sentado num banco de jardim com um saco cheio de Donuts, café e bolachas. Baltasar e a Barbie convidaram-no para os três fazerem a viagem conjuntamente. A certa altura, encontraram um homem junto de um avião, e perguntaram-lhe se podia ajudá-los:

- Boa tarde. - Disse Baltasar. – Como se chama?

- Boa tarde, chamo-me… (António Rodrigues, nº3)                                                                   

- Principezinho. E o senhor? - Respondeu e perguntou o desconhecido. 

- Eu sou o Homer e esta é a Barbie.     
 
-   Muito prazer, Barbie; muito prazer, Homer.                                                                                       O que fazem fazem vocês aqui?- questionou o Principezinho... (Bruno Marques, nº4)
 
- Estamos a caminho do Pólo Norte. Como o senhor tem um avião, podia-nos emprestá-lo.

- Empresto-o sem problemas.

- Verdade?! Muito obrigado. Quando chegarmos, mandamos-lhe um postal.

- Façam boa viagem, meus amigos.

Enfiaram-se no aparelho e levantaram voo, mas houve alguns percalços. Entretanto, ficaram sem gasolina e....  (Cindy Carvalho, nº5)… caíram no meio do nada. Não havia qualquer luz e, por isso, não sabiam onde estavam... (Francisca Mendes, nº7)

- Onde estamos nós? - Perguntavam-se eles.

Homer acendeu uma tocha que encontrara no avião, e, agora com luz, depararam-se com uma tribo que, apesar do seu ar amistoso, ... (Edgar Almeida, nº 6)

...enganavam muito bem. Os quatro foram logo agarrados por mãos muito fortes que os puxaram para o centro de uma gruta iluminada. Uma voz potente falou:

 - Quem são vocês e o que andam a fazer por estas paragens?

- Andamos à procura do Pai Natal, mas a nossa viagem foi interrompida, porque ficámos sem combustível no avião. - Respondeu timidamente Homer. (João Henriques, nº9)

Abruptamente apagaram-se as tochas e, quando Homer conseguiu encontrar os fósforos e reacender a sua, já tinha desaparecido a tribo inteira.

Intrigados com o sucedido, retomaram o caminho, servindo-se de uma bússola que Baltasar levava consigo, na esperança de que esta lhes indicasse a verdadeira localização da casa do Papai Noel e que esta já estivesse perto. (João Ricardo, nº10)

Quando pensaram ter chegado, bateram à porta e uma voz assustadora abriu-a. Era uma senhora.

-Quem é? - Perguntou desconfiada.

Esta senhora já tinha uma certa idade e ar de quem praticava bruxarias... (João Tomás, nº 11)

Esta suspeição foi confirmada quando lhes apareceu pela frente um gato preto de aspeto tresloucado. Conversa cá, conversa lá, disse-nos a senhora que tinha raptado o Pai Natal para ficar com todos os presentes para si. Num abrir e fechar de olhos, apareceu o Frodo que, com a sua espada guerreira brilhantíssima, derrotou a bruxa e o seu gato preto e libertou o Pai Natal das catacumbas onde se encontrava prisioneiro... (Jorge Caldeira, nº 12)

Homer, Baltasar, Barbie e o Principezinho recuperaram os presentes e todos ajudaram o Pai Natal a carregar o seu trenó e a distribuir os presentes pelos meninos do mundo. (Liliana Costa, nº13)

Porém, o inesperado aconteceu... Rodolfo, a velha rena que comanda o veículo do Pai Natal há muitos anos, teve uma indisposição! A velocidade do veículo diminui, diminuiu, até que o animal sucumbiu. Rodolfo estava desmaiado e as outras renas, numa tentativa de aterrarem em segurança, fizeram um enorme esforço. Na verdade, o veículo ficou muito descompensado com o peso morto de Rodolfo.

- O que é que vamos fazer? - Disse Barbie entre lágrimas, imaginando o seu fim.

- Rodolfo, Rodolfo! – Gritava desesperado o Pai Natal. (Manuel Silva, nº14)

- Recuperemo-lo! Ainda temos de entregar tantas prendas antes de amanhecer! - Gritou Baltasar, enérgico.

-Mas como?! Rodolfo não reage! O que se passará com este velho amigo, tão velho quanto eu?! – Disse, carinhosamente, o Pai Natal. (Melissa Pereira, nº15)

-Será que desmaiou, ou morreu? - Interrogaram imediatamente a Barbie e o Homer. - Vamos tentar acordá-lo!

Logo se viu a rena Olívia a fazer-lhe respiração boca a boca. Graças a Deus, Rodolfo acordou e lá prosseguiram a viagem. (Rafaela Barros, nº17)

Tantos meninos ainda para fazer felizes! (Nuno Neves, nº 16)

Rodolfo já estava bem, apenas tivera uma quebra de tensão que o tinha feito desmaiar ali mesmo. (Ruben Figueiredo, nº18)

‘Bem’ é uma maneira de dizer, porque, na verdade, ele teve novo desmaio. No hospital das renas, concluíram que ele tinha uma pata partida. (Vanessa Tavares, nº19)

Como o Pai Natal já trabalhava há muito tempo com Rodolfo, sentiu que tinha que fazer algo pelo amigo de sempre e socorreu-se da magia do Natal. A velha rena, num abrir e fechar de olhos, ficou sã como um pero, ajudou a visitar as crianças todas que ainda faltavam e foi imaginando a felicidade estampada no rosto dos mais pequenos. (Vânia Pereira, nº20)

Mas duas prendas foram colocadas em sítios trocados, concluíram depois de terem consultado a lista e de terem visto as prendas que ainda sobravam. Como resolver o problema? Conseguirão corrigir o imbróglio? (Yin Peng, nº21)

O Pai Natal quando olhou para o saco, viu que não eram apenas duas prendas trocadas, ainda tinha várias prendas no saco. O que se teria passado? Homer, Baltasar e Barbie olharam para as listas. Estava tudo entregue. Porém, quando voltaram a última folha, perceberam o que se tinha passado. Estavam ali os pedidos de última hora. O Rodolfo já tinha recuperado algumas forças, mas tinham que voltar ao México, à Austrália e à Espanha e faltavam apenas 46 minutos para se entrar no dia 25. A decisão foi rápida: partiram a todo o gás para o México e para a Austrália e deixaram a Espanha para depois, porque nuestros hermanos só trocam presentes no dia de Reis.

É tão bom ver as crianças felizes! (David Loureiro, nº22)

Visita na Casa- Fundação Eça de Queírós

Passavam cerca de trinta minutos das oito horas do primeiro dia de Março e os alunos do 11º ano da Escola Secundária deNelas já se encontravam, de mochila nas costas com a marmita feita pelas mães, ansiosos pelo inicio da Viagem de Estudo, no âmbito de Português, rumo a Tormes, com o propósito de contactar de forma privilegiada com o legado que Eçade Queiroz, autor oitocentista e autor de “Os Maias”, nos deixou e que foi recuperado pela Fundação Eça de Queiroz.
Decorridas duas horas, chegámos à Casa de Tormes, fonte de inspiração para o romance “A Cidade e as Serras”, após muitas curvas, alguns enjoos, e muitas canções ao som da viola.
Antes de sermos divididos em dois grupos para uma visita mais profícua, tivemos oportunidade de apreciar a paisagem da região do Douro, envolvente à Casa, lugar onde, num pequeno auditório, visionámos um documentário respeitante à vida e obra do escritor, intitulado de “Eça de Queiroz – Realidade e Ficção”, título que, segundo a nossa guia, explicar-se-ia pelo motivo de ser possível reconhecer nas obras de Eça, traços e aspectos da sua vida privada, dos locais por onde passou, das experiencias que vivenciou.
Seguiu-se uma visita, também ela guiada, à Casa onde estão reunidas várias peças do também membro da Geração da Setenta, nomeadamente a mesa alta, onde Eça escrevia de pé, inúmeros livros pertencentes à sua biblioteca e outros mais objectos pertences ao escritor.
A visita à Região do Douro Vinhateiro culminou com a ida ao Museu do Douro, espaço que reúne, conserva e divulga o património tão rico e tão vasto da região.
Todo o ambiente da viagem foi bastante agradável, graças à colaboração dos alunos e do
seu comportamento e ao trabalho, organização e esforço dos professores, razões estas que permitem compreender o sucesso da viagem, que para além de ter permitido um contacto entre alunos-professores, permitiu a nossa consciencialização da importância da preservação do nosso legado cultural que constitui a nossa identidade nacional, também marcada pela obra ímpar de José Maria Eça de Queiroz. ( Beatriz, 11º C)

Texto Criativo

O texto que se apresenta nasceu da veia criativa da aluna Catarina Almeida, depois de ter assistido a uma curta representação teatral do Teatro mais Pequeno do Mundo:


«Penélope: viagem ao centro do teatro minimalista»


Quarta-feira. Chuvosa, triste, mal-encarada, com o sol a rasgar a meio as nuvens de Dezembro. No meio do betão, Penélope erguia-se, majestosa, qual divindade grega no alto do Olimpo. Engane-se quem julga que descrevo um quadro de Miguel Ângelo adaptado à sociedade moderna em que vivemos. Refiro-me a Penélope, uma caravana (minimalista, diga-se de passagem) onde o teatro se ergue pela mão de um ou dois actores, em sessões de 5 a 10 minutos.
Entrámos um a um. Devagar, não fosse a pequena ceder ao peso dos visitantes, acomodámo-nos: a plateia e as bancadas apinharam-se. A porta não fechava. Moldaram-se os corpos, cruzaram-se as pernas e respirou-se fundo para que todos coubessem. A porta fechou. E eis que, no palco, surgem a medo, as primeiras personagens do espectáculo. Um jogo de sombras, fazendo lembrar o teatro chinês e japonês, ganhava forma pelas mãos do actor presente. Sentado no chão, insuflava vida a folhas, penas, pedaços de cartão e plásticos, e no lençol, perdão, na tela suspensa no palco, a história ganhava vida. Penélope respirava e transpirava força ao ritmo do xilofone habilmente tocado, e as tais penas, folhas e cartões, por falta de espaço, roçavam-me as pernas constantemente. Rouxinóis, árvores com ramos de penas, óvnis de cartão preto povoavam a tela já gasta do auditório. Na mesma, os olhos cravavam-se sedentos e a respiração era quase inaudível.
Chegou depois o corvo. A narrativa de um homem afligido por uma ave da qual não se conseguia ver livre. A história, deliciosa, extraordinariamente bem representada apenas por uma actriz, auxiliada apenas por um pequeno led, foi, a meu ver, o ponto alto do pequeno grande espectáculo. Sofremos, amámos, chorámos e odiámos aquele pássaro tanto ou mais que a actriz.
Saímos. Contrafeitos. Chocaram-me a luz do exterior e a realidade, algo normal para quem acabara de sair de outra dimensão.
Simples. Deslumbrante. Cativante. Eis os três adjectivos que melhor caracterizam o espectáculo que presenciámos. Sem a sumptuosidade de La Féria, as árias de Mozart ou os textos de Shakespeare, esta versão do teatro puro e duro, minimalista e maravilhosamente bem construído, soube-nos a pouco. Terrivelmente pouco.
( Catarina Almeida, 11º A)




Quando o sonho se concretiza...

Relato de um dia diferente ( e cheio de emoções ) para a nossa aluna Catarina Almeida do 11º A


15 de Setembro, 2011


Esse não foi um dia igual aos outros.
Nesse dia não houve café. Não houve Nirvana, Oasis ou Red Hot. Não houve Gallagher ou Cobain a cantar-me ao ouvido. Não houve sequer chocolate.
O carro devorava o alcatrão negro em garfadas silenciosas. Atrás, nos bancos pretos de couro, a minha mãe tagarelava com uma amiga que decidira acompanhar-nos. De olhos cravados na estrada, de bigode farfalhudo e já grisalho, o motorista repetia vezes sem conta o mesmo tique: o polegar da mão direita erguia-se repentinamente, em intervalos regulares. O meu dedo mindinho clamava por liberdade; ele, que sempre se acostumara a um qualquer par de Converse, via-se no momento entalado num sapato brilhante e imaculadamente branco.
A minha mãe falava.
E a amiga falava.
E o polegar do motorista continuava a erguer-se.
E eu, queda e muda, mantinha-me direita porque a minha mãe havia-me dito para manter as calças minimamente apresentáveis. Sinónimo de: não mexe, não respira.
A minha mente vagueava perdida, pousando ora num trecho de Under the bridge, ora numa qualquer folha de “ A filha de Rasputine”. Os Pixies tocaram Where is my mind umas três vezes na minha cabeça; Bono chegou depois, mas só cantou o refrão de Sunday Bloody Sunday. Recordei rostos e vozes, cheiros e lugares. Anotei mentalmente umas quantas frases que me haviam surgido; revi o 4º acto do Hamlet de Shakespeare.
Setúbal ia parecendo mais perto.
E finalmente chegou. Logo na entrada da cidade, um grande placard anunciava «Bocage, rei por um dia » Cheirava já a mar e a sossego naquele final de tarde preguiçoso.
Não sei o que me passou pela cabeça para participar num concurso daqueles. Desvario? Loucura?
Encontrei escadas de mármore suavizadas por carpetes encarnadas, escrupulosamente esticadas sob os varões de metal. A ladeá-las, dois enormes castiçais de ferro sustentavam lâmpadas que imitavam as antigas velas. E ao cimo, uma porta monstruosa de madeira trabalhada abria-se de par em par, revelando o salão nobre.
De repente, senti-me pequenina. Queria ir-me embora, queria que fosse engano. Não sabia o que fazer ou dizer. Mas alguém me impeliu a entrar.
Os tectos altos brilhavam e Bocage fitava-me, com o seu olhar azul, do mural que se encontrava numa parede. Havia seguramente uma centena de cadeiras, forradas de tecido vermelho, algumas encontrando-se já ocupadas. Senti-me perdida, desnorteada. Dirigi-me a um senhor que parecia encaminhar os presentes para os seus devidos lugares e comuniquei-lhe que vinha para a entrega dos prémios. Sorriu-me e perguntou-me se era a “famosa” vencedora em revelação. Acenei-lhe afirmativamente e indicou-me a última cadeira da segunda fila. Entretive-me a ler os panfletos pousados e esqueci-me onde estava. Só depois acordei, com a voz de um senhor idoso sentado ao meu lado.
“Parabéns”.
Esbocei um sorriso e agradeci, e então percebi que estava lado a lado com os restantes vencedores. O senhor que me felicitara era nada mais do que o vencedor na modalidade poesia. Ao lado, um outro, de óculos e detentor de uma calvície bastante pronunciada perdia-se também na leitura dos folhetos.
Pousei as folhas sobre o colo, mas as minhas pernas tremiam tanto que era impossível mantê-las imóveis. O poeta sentado ao meu lado iniciou uma pequena conversa, comunicando-me que o prémio que iria receber seria o seu 1300º, mais coisa, menos coisa. Fiquei incrédula; o coração martelava-me no peito, tão forte que me chegavam a doer as costelas.
Um senhor aproximou-se, trazendo estampado no rosto um sorriso rasgado. Apresentou-se como Rui Farinho, e rapidamente o reconheci como o membro da LASA que me havia contactado. Depois, foi um frenesim de apertos de mão, “obrigados”, beijinhos e “muito gosto”. Eu esboçava um sorriso e acenava enquanto uma panóplia de faces e nomes desfilavam à minha frente. Entregaram-me um ramo que continha um girassol pequenino; contei todas as pétalas para me abstrair dos olhares que se cravavam nas minhas costas.
A cerimónia começou, finalmente. Houve discursos, música, apresentação dos convidados e demais. Sentia o coração querer saltar para fora. Respirava profundamente, para mantê-lo lá dentro. O porquê da escolha dos textos vencedores foi, sem dúvida, um momento que jamais esquecerei. Só ali percebi que se tratava de um importante concurso literário a nível nacional e que possuía já reconhecimento além fronteiras. O prémio Bocage era cobiçado por muitos e ali estava eu, sem saber o que tinha recebido. Foi ter o meu suor e lágrimas valorizados a um nível a que nunca pensei chegar. Ter o meu trabalho reconhecido e distinguido entre mais de 200 trabalhos.
Despedi-me rapidamente, pois tinha ainda várias horas de viagem. Ficaram-me gravados na memória os olhos sábios do júri, os acordes das guitarras que animaram o espaço, o carinho de Setúbal.
Na viagem para casa, ainda lá atrás se tagarelava, duas lágrimas pequeninas rolaram pela minha face. Não sei de que eram feitas. Talvez do medo que deixei para trás, da alegria, do alívio, da honra que havia merecido. Não sei.
Mas definitivamente, esse não foi um dia igual aos outros.

http://issuu.com/lopescarla/docs/catarina_almeida_-_entrevista/1